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Gêmeos autistas fazem sucesso nas redes com mais de 700 mil seguidores 03/07/2023

A dicção que impressiona, a opinião assertiva e o hiper foco em aviões, aeroportos e eletrodomésticos, bem como os vídeos gravados sem pretensão em casa, conquistaram mais de 700 mil seguidores nas redes sociais de Luci Gomes e dos gêmeos, Ângelo e Augusto. Conhecidos há bastante tempo em Natal, os mossoroenses agora fazem sucesso nas redes compartilhando o dia a dia, curiosidades sobre o autismo, além de peripécias que vez ou outra são capturadas pela câmera. Os vídeos começaram a ser publicados em abril deste ano e rapidamente 'viralizaram' no Tiktok. Hoje, acumulam cerca de 9,3 milhões de curtidas e incontáveis visualizações.  

Luci Maia, 75, que é pedagoga, ainda não sabe ao certo o que gerou tanto interesse nos meninos. Conta que tudo começou quando publicava vídeos em comemoração ao aniversário deles, que hoje têm 42 anos. Um deles se destacou, mas só em 2023 começou a publicar com frequência, quando o neto decidiu criar o perfil no Tiktok, aonde acumulam cerca de 456 mil seguidores. Mais recentemente, Luci criou um canal no YouTube, onde compartilha a trajetória da família no diagnóstico do autismo e conta com cerca de 19 mil espectadores.

“Isso aconteceu de repente sem eu fazer nenhum planejamento. Eu sempre gostei de filmar coisas deles, tanto que tem vídeos que eu coloquei que já haviam sido produzidos bem antes, mas essa condição de ter aumento na internet foi a partir do dia 2 de abril deste ano”, comenta Luci. 

Um dos vídeos com a maior quantidade de visualizações mostra os gêmeos tomando mingau de aveia. Mais de 15 milhões de pessoas o assistiram e cerca de 11 mil comentaram. Alguns pedem a receita, outros se identificam com a forma como Ângelo e Augusto comem. Outro que fez sucesso é uma simples interação dos meninos com o pai, Gerson Maia, que estimula a fala dos dois enquanto comentam sobre artistas do forró nordestino. “O nome do meu ídolo é um forrozeiro nordestino, o meste Alcymar Monteiro”, revela Augusto, ou Gugu, como é chamado no vídeo. 

No São João de Natal, que aconteceu no Arena das Dunas, eles também chamaram atenção do público. Ganharam tempo com o cantor Léo Santana e o questionaram sobre tempo de carreira, experiências musicais e até agenda de shows para os próximos meses. Ângelo, por exemplo, resgatou o período que o artista passou pela banda Parangolé, em meados de 2007. 

Sobre a experiência, disse à reportagem da TRIBUNA DO NORTE, que foi “emocionante” e que estava ansioso para conhecer Léo pessoalmente.

 “Estava ansioso para esperar ele, para falar com ele. Entrei, chegando lá entrevistei ele, falei sobre a carreira dele com a banda Parangolé e aí falei o que ele já esta pretendendo agora, gravar outras músicas no início de dezembro”, comenta Ângelo. O vídeo já reúne 2,2 milhões de visualizações só no Tiktok. 

Interação com o prefeito de Natal, Álvaro Dias, com direito a imitação de dancinhas e momento com o cantor Zezé Di Camargo foram algumas das participações dos gêmeos no carnaval. A verdade é que os dois já são conhecidos em Natal e sua família já é atuante na causa de pessoas atípicas há anos. Não é incomum vê-los no Midway conversando com as pessoas na praça de alimentação ou em restaurantes. 

Eles gostam de conversar. Muitas vezes nem esperam as pessoas terminarem de comer, o que é sempre repreendido pela mãe. Entendem tudo sobre o processo de licitação do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, também são apaixonados por eletrodomésticos e por girar objetos.

 Segundo sua mãe, eles podem passar horas observando qualquer objeto girar, sejam tampas, panelas ou a parte rotatória da mesa de jantar. 

Ângelo e Augusto já foram personagens da TN, na edição do dia 15 de outubro de 2007. À época, o tema era o diagnóstico do autismo e a busca por independência dos filhos atípicos. Hoje as terapias para a condição são melhor disseminadas e os dois servem de inspiração a muitas outras famílias e compartilham suas histórias nas redes. Luci diz que ouviu de mães que já pensaram em desistir e hoje enxergam esperança. “Eu já ouvi tanta coisa. É isso que não me deixa parar de fazer os vídeos”, conta. 


Família enfrentou luta para ter um diagnóstico

Ângelo e Augusto nasceram da quarta gravidez de Luci. Logo nos primeiros meses, notou que os bebês não interagiam com ela, ou seja, não a olhavam fixamente ou sorriam. Esses sinais a preocuparam logo de cara, pois conta que durante sua formação em pedagogia, estudou psicologia do desenvolvimento e sabia que aquele comportamento não era típico. 

No entanto, há mais de 40 anos era difícil obter um diagnóstico ou ao menos uma explicação, relata a pedagoga. Em consequência, as crianças começaram a crescer e os sinais se tornavam mais acentuados. Durante a infância, eles se tornaram hiperativos, então ficou mais difícil conseguir atenção. Passaram pela Paraíba, São Paulo e outras cidades do RN, mas os médicos diziam que estava tudo bem com os meninos. Chegaram a participar de um estudo na Unicamp. 

“Aos dois anos e cinco meses, já que aqui no Nordeste a gente não conseguia nenhum diagnóstico, fomos a São Paulo, em Campinas, na Unicamp. Nós passamos 18 dias fazendo toda uma pesquisa e também não foi constatado. Nem se falava em autismo naquela época. O laudo que nos deram é que eles tinham um atraso no desenvolvimento. Até então eles não falavam uma palavra”, relata Maia.  

Em 1985, se mudaram para Fortaleza, onde passaram três anos. Neste período, foi a primeira vez que ouviram sobre autismo. Foi então que Luci passou a ler sobre o tema, mas também foi difícil encontrar um livro que explicasse sobre a condição. “Eu procurei muito e consegui um livro chamado 'Autismo Década de 80' do neurologista  Christian Gauderer e neste livro eu via tudo que eu estava passando. Parecia que eu vivia aquilo que tinha no livro”, diz. 

Aliado à pesquisa, a mãe usou sua experiência profissional e acadêmica para moldar o comportamento dos filhos, ensinando-os a ouvir, prestar atenção e se comunicar. Também foram necessários diversos tipos de terapias e acompanhamento médico. Ainda hoje eles têm dificuldades motoras, como lavar as mãos, abotoar a camisa e geralmente vestem as roupas com a frente para trás ou pelo avesso.  

Com o passar dos anos, a evolução também se tornou mais pujante. Aos sete anos eles começaram a desenvolver uma maior simpatia e interação com as pessoas. Mais recentemente sua mãe compartilhou um vídeo em que Augusto fala sobre seus sentimentos. “Uma angústia, uma saudade. Uma saudade do pessoal que eu lembro, de tantas coisas que eu passei, tantos anos que eu passei”, ele fala no vídeo em que relembra sua vida nos mais de 40 anos que passaram até o momento em que vive hoje. 


Pedagoga fundou escola

A família chegou em Natal em 1987. Com a dificuldade de encontrar escolas que aceitassem crianças autistas, Luci resolveu fundar o Jardim Escola Dois Amores, em 1990, depois que Ângelo e Augusto passaram cerca de três anos sendo educados em casa. A mãe tentava manter o tempo dos meninos sempre ocupados. Repetia as palavras para tornar a fala deles funcional, mostrava gravuras em livros para que aprendessem o nome das coisas, dentre outras estratégias para atenuar a hiperatividade. 

A escola foi fundada em uma casa  no bairro de Lagoa Nova, quando os meninos já tinham por volta de sete anos. “A gente adaptou para uma escolinha jardim de infância, onde, além dos meus filhos estudarem, outras crianças também. Também aceitei crianças com outras síndromes e deficiências e também autismo. Só que naquela época era mais difícil alunos autistas, quase que não tinha”, conta em vídeo compartilhado no Youtube. O lugar funcionou por 23 anos, terminando suas atividades em 2013. 


Confira o vídeo nesse link: YouTube

Fonte: Tribuna do Norte 

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