
Aumento na prevalência do autismo: novo dado do CDC aponta que 1 em cada 31 crianças nos EUA estão no espectro
Postado em 25/04/2025
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) divulgou recentemente o relatório mais atualizado da Rede de Monitoramento de Deficiências de Desenvolvimento e Autismo (ADDM). Segundo os dados de 2025, a prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) entre crianças de 8 anos atingiu a marca de 1 em cada 31 — o que representa 3,2% da população estadunidense.
Esse número é o mais alto já registrado desde o início do monitoramento pelo CDC no início dos anos 2000, e levanta discussões importantes sobre a evolução diagnóstica, o papel do sistema de saúde, os avanços na conscientização e os desafios ainda enfrentados por famílias e profissionais.
Evolução da prevalência do TEA (dados da Rede ADDM - CDC)
A seguir, veja a comparação da prevalência ao longo dos anos, com base nos dados do CDC:
Fonte: CDC - Autism Data & Statistics
Por que a prevalência aumentou?
Segundo o CDC e diversos pesquisadores da área, esse aumento não se deve unicamente a um crescimento real nos casos de autismo, mas sim a uma combinação de fatores, entre eles:
Maior conscientização pública e profissional sobre os sinais do autismo.
Aprimoramento nos critérios diagnósticos.
Ampliação do acesso aos serviços de saúde e educação, que permite a identificação precoce.
Melhor capacitação dos profissionais de saúde, educação e assistência social para reconhecer os sinais de TEA.
Redução do estigma, incentivando mais famílias a buscar avaliação para seus filhos.
Expansão do acesso ao diagnóstico em comunidades historicamente negligenciadas.
Os dados refletem, portanto, uma melhora na capacidade do sistema de identificar as crianças com TEA, especialmente entre grupos populacionais que antes eram subdiagnosticados.
Mais identificação, mais acesso
Embora o aumento da prevalência possa causar preocupação à primeira vista, ele também revela um avanço no acesso a diagnóstico e apoio. Diagnosticar mais crianças significa que mais famílias estão sendo alcançadas por serviços essenciais.
Diversos estudos apontam que identificar precocemente o autismo permite iniciar intervenções mais cedo, o que contribui para melhores resultados ao longo do desenvolvimento — tanto na linguagem quanto no comportamento e nas habilidades sociais.
Além disso, há um aumento na identificação do autismo entre crianças mais novas e em grupos historicamente subidentificados, o que exige um planejamento mais eficaz para garantir serviços de diagnóstico, tratamento e suporte de forma equitativa.
Disparidades e diferenças regionais
O relatório também esclarece que as variações na prevalência entre diferentes comunidades não indicam maior risco de desenvolver TEA nessas regiões. Em vez disso, essas diferenças podem ser explicadas pela desigualdade no acesso a serviços de triagem, avaliação e diagnóstico.
Além disso, os dados apontam que o diagnóstico de autismo é 3,4 vezes mais frequente em meninos do que em meninas e é proporcionalmente menor em crianças brancas em comparação com outros grupos étnicos. Cerca de 39,5% das crianças diagnosticadas com TEA também foram classificadas como tendo alguma deficiência intelectual.
Segundo Zachary Warren, diretor do Instituto de Autismo TRIAD do Vanderbilt Kennedy Center e coautor do relatório, esse tipo de levantamento foca na prevalência, não nas causas. No entanto, ele destaca que os números estão claramente relacionados ao aumento da conscientização, às mudanças nas práticas diagnósticas e aos aprimoramentos nos estudos populacionais.
O próprio relatório do CDC reforça que cresce o acesso à identificação entre grupos que antes enfrentavam barreiras. As crianças nascidas em 2018, por exemplo, receberam mais avaliações para autismo do que as nascidas em 2014 na mesma faixa etária.
E no Brasil, como está a situação?
No Brasil, não há uma pesquisa nacional oficial periódica como a do CDC, o que dificulta a estimativa precisa da prevalência. Estimativas variadas apontam que o número pode variar entre 1 a cada 36 ou até 1 a cada 68 crianças, mas esses dados são baseados em estudos pontuais, muitas vezes com amostras pequenas ou localizadas.
A OMS estima que o TEA afeta cerca de 1 em cada 100 crianças no mundo, mas os números variam muito de país para país. Os principais obstáculos enfrentados no Brasil incluem:
Falta de capacitação em larga escala de profissionais da saúde e educação.
Baixa integração entre os serviços públicos de saúde e educação.
Dificuldade de acesso a avaliações especializadas gratuitas ou de baixo custo.
Ausência de uma política nacional de rastreamento sistemático em escolas e unidades de saúde.
Conclusão: por que esse dado importa?
Mais do que apenas um número, a taxa de 1 em 31 crianças com autismo evidencia a urgência de investimentos em políticas públicas, formação de profissionais e apoio às famílias.
No contexto brasileiro, isso significa:
Implementar estratégias de diagnóstico precoce.
Oferecer formação continuada a professores e profissionais da saúde.
Garantir inclusão escolar com suporte adequado.
Ampliar ainda mais os serviços especializados no SUS e nas redes municipais.
Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de intervenções eficazes e de qualidade de vida para a criança e sua família.
Fontes: